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Por: Jamerson Nascimento 12/04/2021
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Loving Vincent: Uma Pintura Viva

“A vida pode derrubar até o mais forte.”

O filme que você está prestes a ver foi inteiramente pintado a mão por uma equipe de mais de 100 artistas.” E assim se inicia esta produção batizada como “Loving Vincent” (“Com Amor, Van Gogh“, aqui no brasil) que nos apresenta uma técnica fantástica e inédita dentro do mundo da animação cinematográfica.

Autorretrato | Van Gogh, 1887

Mas antes de falarmos sobre o filme, vou fazer um pequeno resumo sobre a vida dessa grande figura para aqueles que ainda não o conhece. O holandês Vincent Van Gogh (1853-1890) foi um importante pintor que se tornou referência dentro do cenário da arte pós impressionista devido as suas técnicas e estilo próprio, o uso que fazia das cores e em como retratava seus sentimentos através da pintura, influenciando diversos outros artistas após a sua morte e sendo considerado de extrema relevância até os dias de hoje.

Durante sua vida, Van Gogh foi vítima da depressão, além de sofrer com delírios e surtos psicóticos dos quais rendeu um dos episódios mais conhecidos de sua história quando, em um acesso de fúria e após um desentendimento com seu amigo, Paul Gauguin, Vincent cortou fora um pedaço de sua própria orelha com uma navalha.

Após esse acontecimento, o pintor se internou em alguns hospitais psiquiátricos para receber tratamento e, com sua melhora, recebeu alta podendo se mudar para um vilarejo francês chamado “Auvers-sur-Oise”, onde ficou aos cuidados do médico Paul Gachet e também mais próximo de seu irmão Théo com quem se correspondia através de cartas frequentemente.

Pouco tempo depois, Van Gogh viria a cometer suicídio nesse mesmo vilarejo onde passou seus últimos meses de vida. Infelizmente, o pintor só veio a ter seu devido reconhecimento anos depois de seu falecimento. Mesmo tendo produzido mais de 800 quadros durante o seu curto período em atividade, em vida, viu apenas um único trabalho seu ser vendido.

Com Amor, Van Gogh” tem como condutor da narrativa o jovem Armand Roulin que descobre que existe uma última carta escrita por Vincent que não foi entregue a Théo. Com ela em mãos, Roulin viaja até o local onde o pintor passou seus últimos momentos para entregar a correspondência ao devido destinatário.

Loving Vincent (2017) directed by Dorota Kobiela, Hugh Welchman • Reviews,  film + cast • Letterboxd
Douglas Booth em “Loving Vincent”

O roteiro conta com alguns flashbacks de Vincent enquanto Armand inicia a sua jornada em busca de Théo, mas a história vai se desenvolvendo de tal forma que, em determinado momento, a trama se transforma em uma investigação sobre a morte do artista com direito até a Armand bancando o detetive, questionando os cidadãos locais e “colhendo” os seus depoimentos levando o jovem a se questionar se Van Gogh, na realidade, poderia ter sido uma vítima de assassinato.

Agora sobre a estética: É impressionante a qualidade do trabalho que os artistas envolvidos com essa produção nos entregam. O filme foi totalmente feito com pinturas a óleo em tela e, logo nas primeiras cenas, temos a sensação de sermos sugados para dentro de um quadro de Vincent tal qual o nível de perfeição com que a sua técnica foi reproduzida.

É fantástico como conseguimos visualizar cada detalhe, cada pincelada e até mesmo a textura da pintura em óleo em cada segundo das pouco mais de 1 hora e meia de duração do filme.

Caso você já tenha um conhecimento prévio do acervo de obras feitas por Van Gogh, também vai conseguir encontrar diversas referências a quadros famosos do pintor como “Pontes através do Sena em Asnières”, “O Café à Noite na Place Lamartine” e o clássico “Noite Estrelada sobre o Ródano”, sem contar os próprios personagens que também são inspirados em quadros do artista.

Artistas durante o processo de produção de “Loving Vincent”

Falando nisso, os atores escolhidos para interpretarem esses papéis gravaram suas cenas em estúdio e, a partir dessas gravações, os artistas pintaram milhares de telas que unidas dão a sensação de movimento e mesmo assim não prejudicou nem diminuiu em nada a força e as nuances das atuações tal qual o nível de atenção que tiveram para transpor as ações e expressões para a tela.

O elenco conta com nomes como Douglas Booth (Roulin), Jerome Flynn (Dr. Gachet), Saoirse Roman (Marguerite), Robert Gulaczyk (Vincent), Helen McCrory (Louise), Eleanor Tomlinson (Adeline), entre outros. No geral, o elenco tem um ótimo desempenho, com destaque para Saoirse e Robert que conseguem mostrar ao público a dualidade e as questões que seus respectivos personagens enfrentam.

Loving-Vincent.png (1570×1061) | Artistas, Van gogh, Desenhos
Eleanor Tomlinson e Jerome Flynn em gravações de “Loving Vincent” – Comparativo das obras originais com o resultado final no longa.

A trilha sonora composta por Clint Mansell, sem dúvida alguma, também é outro ponto positivo, conseguindo emocionar, além de elevar a carga dramática de algumas cenas.

Para encerrar, hoje eu resolvi falar desse filme polonês lançado lá em 2017 por que, além de ser sobre um dos meus pintores favoritos, eu não vejo muitas pessoas comentando sobre e, na minha opinião, essa produção merece ser lembrada sempre que possível, seja pelo tema central da obra, seja pela técnica cinematográfica inédita e muito bem executada.

Dirigido por Dorota Kobiela e Hugh Welchman, o que inicialmente seria apenas um curta com cerca de 17 minutos de duração, de repente, “Com Amor, Van Gogh” se transformou nessa belíssima pintura viva, em formato de longa metragem, com 95 minutos de duração que homenageia esse importante pintor e é um prato cheio para aqueles que admiram a sua arte ou que desejam conhecer ao menos um pouco sobre sua história.

Quem sou eu aos olhos da maioria das pessoas? Um zé ninguém, uma não entidade, uma pessoa desagradável. Alguém que não tem e nunca terá uma posição na sociedade, em suma, o nível mais baixo. Pois bem, mesmo que isso fosse completamente verdade, então, um dia, eu gostaria de mostrar, pelo meu trabalho, o que esse zé ninguém, essa não entidade, tem em seu coração.” – Vincent

Texto Elaborado por Jamerson Nascimento.


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