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Por: Larissa Regina Diniz 12/07/2021
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Nevernight: Sombra do Corvo (Jay Kristoff) | Resenha

“Você será um rumor. Um sussurro. O pensamento que faz os bastardos desse mundo acordarem suando na quasinoite. A última coisa que você virá a ser nesse mundo, garota, é heroína de alguém – Mercúrio devolveu o punhal. – Mas será uma garota que os heróis temem”

Nevernight (Jay Kristoff)
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Capa do livro Nevernight, lançado pela editora Plataforma 21

Nevernight: A Sombra do Corvo, é o primeiro livro das Crônicas da Quasinoite, uma trilogia de dark fantasy escrita pelo autor Jay Kristoff, até agora sua obra de maior sucesso.

Ambientada na República de Itreya, uma terra fictícia que mistura referências góticas italianas com elementos fantásticos, vamos conhecer um mundo iluminado por três sóis que desaparecem do céu apenas por uma breve temporada a cada dois anos, a chamada “veratreva“. Antes disso, os cidadãos de Itreya possuem apenas a chamada “quasinoite“, momento em que um ou dois dos sóis se escondem, oferecendo uma iluminação menos ofuscante.

Mia Corvere nasceu neste lugar, mas foi feliz por muito pouco tempo. Quando era criança, seu pai foi acusado de de insurreição contra a República de Itreya, e sua família inteira assassinada ou presa. Mia também teria morrido, mas a Noite não deixaria que isso acontecesse, e desde aquele dia as sombras nunca mais a abandonaram, fazendo-lhe companhia na forma de um gato chamado Sr. Simpático (que de simpático não tem é nada).

Com dezesseis anos, tudo o que Mia quer é se vingar de todos os que destruíram sua vida.  É por isso que ela quer se tornar uma serva da Igreja Vermelha, se tornar uma Lâmina escolhida por Nossa Senhora do Bendito Assassinato, e trazer o sofrimento para todos os seus inimigos.

“- Você começa do nada. Não possui nada. Não sabe nada. É nada.

-E por que eu faria isso?

O velho apagou a cigarrilha no chão entre os dois. Seu sorriso a fez sorrir também

– Porque então você será capaz de tudo.”

Nevernight (Jay Kristoff)

Lendo Nevernight é fácil entender porque Jay Kristoff tem tantos fãs ao redor do mundo. A história é MUITO BOA!!!

Nevernight apresenta um mundo fácil de entender, a princípio, mas com uma lore completíssima para os fãs mais hardcore de universos fictícios. Uma estratégia inteligente do autor para agradar os dois públicos (os nerds de wolrdbuild, e os não tão nerds assim) foi a utilização de notas de rodapé, onde os detalhes mais pesados do mundo são apresentados por um narrador sarcástico e com um humor negro sob medida. Dessa forma, o autor retirou do texto principal detalhes que não são relevantes para o plot, mas que ainda ficaram disponíveis de uma forma divertida pra quem gosta de ler essas curiosidades.

Nevernight também recebe nota 10 no sentido personagens carismáticos. Mia é a protagonista perfeita para essa história banhada em sangue, vingança, e uma pitadinha de prazer carnal (ATENÇÃO, livro +18!!! não digam que eu não avisei!!). Como não gostar de uma garota badass, inteligente, que resolve as tretas sem enrolação, e que ainda tem lugar no coração para segurar a sua humanidade, mesmo no meio de assassinos sanguinários? Receita para o sucesso, eu diria.

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Tric, Mia e Ashlim (arte por: @monolimeart)

E, é claro, o cuidado na construção dos personagens não termina na protagonista, mas outros personagens relevantes como Tric e Ashlim recebem sua própria cota de brilho e trabalho emocional. Do jeito que a gente gosta.

Como esperado de muitos livros com mundos inventados, a primeira metade do livro é um um pouco mais lenta, já que exige muita apresentação da parte do enredo. No entanto, do meio pra frente, é só caos, choro e sangue. Principalmente nos últimos capítulos, nos quais Jay Kristoff fez por merecer sua fama de matador sem coração (aviso: não se apegue a ninguém!!).

“Nunca trema. Nunca tema. – suspirou Mia. – E nunca, jamais, esqueça.”

Nevernight (Jay Kristoff)

Claro, nem tudo são flores. Alguns detalhes às vezes causavam algum desconforto durante a minha leitura.

Na primeira metade do livro, me incomodou a forma como Mia era usada como uma protagonista feminina. Mulheres badass boca sujas são legais? Sim. Mas as vezes parecia que o autor fazia a Mia parecer mais legal comparando seus trejeitos com os das “garotas bonitinhas e femininas”, diminuindo a importância desse segundo. Não aconteceu muitas vezes, e nem sempre essa comparação era óbvia, mas eu senti ela pairando ali, o que me incomodou um pouquinho.

A sexualização da Mia também é um ponto que pode ser discutido. Entendo perfeitamente a utilização disso na história, e me deixa feliz ver que se existia sexualização, não era só da Mia, mas também de vários personagens, inclusive os masculinos. Mas assim… a personagem ainda era menor de idade. Não sei se essa era a escolha mais saudável para a protagonista.

Por último, preciso apontar a problematização do personagem Adonai, o manipulador de sangue da Igreja Vermelha. Adonai, nome hebreu para “Deus”, usado em um personagem com a característica creepy de beber sangue, foi, por muitos integrantes da comunidade judaica, considerado como uma referência anti-semita, pois faria referência a antigas alegações, datadas do tempo da perseguição aos judeus, de que esse povo faria sacrifícios de sangue para oferecer a seu Deus (sacrifícios humanos, no caso). Essa alegação, obviamente falsa, ainda tem repercussão na cultura popular, e fazer essa referência no personagem Adonai, ainda que não tenha sido a real intenção do autor, não ajuda a combater o anti-semitismo.

É claro, a escolha de ler a apoiar a obra, ainda que ela tenha estes problemas, é de cada um.

Avaliação do autor:

Avaliação: 4 de 5.

Texto por Larissa Diniz (@cons.ciencialiteraria)


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