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Por: Jamerson Nascimento 15/03/2021
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Cinema ou Sitcom: Analisando a produção de WandaVision

O que é o luto, se não o amor que perdura?

Depois de 8 semanas incríveis, WandaVision chegou ao fim no dia 05 de março e, com ele, trouxe novos questionamentos sobre os próximos rumos que Kevin Feige e seu MCU (sigla para “Marvel Cinematic Universe” ou “Universo Cinematográfico da Marvel”, em português) pretendem tomar para o futuro. Mas esta resenha não é sobre isso. Hoje não vamos falar sobre teorias ou sobre como o final pode se interligar ao vindouro “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, no qual Elizabeth Olsen, nossa “Feiticeira Escarlate”, já está confirmada como parte do elenco.

Hoje vamos falar sobre questões de produção e em como essa minissérie se tornou uma grande homenagem para as diversas fases da televisão e como a qualidade dela pode impactar as séries futuras, por que uma coisa ficou bem clara desde seu primeiro episódio: WandaVision não chegou para brincadeira.

Elizabeth Olsen e Paul Bettany em “WandaVision” | Marvel Studios, Disney+

Vamos começar falando sobre o orçamento. Antes de seu lançamento, diversos veículos de informação norte americanos lançaram matérias onde o valor estimado de produção poderia chegar aos US$ 25 milhões por episódio e, multiplicando esse valor pela quantidade de capítulos que a temporada possui, ou seja 9, chegamos a bagatela final de US$ 225 milhões.

A título de comparação, “The Avengers”, filme lançado lá em 2012 e que marca a primeira reunião da equipe de super heróis da Marvel nos cinemas, custou exatamente esse valor. “Ah, mas aí é uma produção cinematográfica, não é a mesma coisa”, você pode me falar.

De fato, a produção de um seriado televisivo possui algumas diferenças em relação a uma produção cinematográfica e isso vai desde o tempo de desenvolvimento dos personagens em tela até o modo em como a fotografia será tratada, a duração do produto, o tempo disponível para a gravação e, por que não, a qualidade dos efeitos visuais também.

Mas quando o assunto é orçamento, temos, por exemplo, a série de sucesso da HBO Game of Thrones em que, segundo dados da empresa e site alemão Statista, suas últimas temporadas estavam custando cerca de US$ 15 milhões por episódio e, durante essa fase final, entregava um nível de produção televisiva elevado em relação às outras séries exibidas no mesmo período com direito até uma batalha que levou 55 dias para ser filmada. É claro que cada caso é um caso, mas percebe como esses dois mundos (cinema e TV) podem se fundir e que isso já vem acontecendo de tempos em tempos?

Mas agora que a minissérie da Feiticeira Escarlate e do Visão chegou ao fim, podemos perguntar: “Será que esse custo altíssimo valeu a pena? O produto que foi entregue justifica o preço que ele custou para ser feito?

Vamos lá, a Marvel se propôs a celebrar e recriar (da maneira mais próxima e realista possível) diversas sitcoms de sucesso, começando lá na década de 50 até chegar aos anos 2000. Ao gravar o primeiro e o segundo episódio com plateia ao vivo em estúdio, da mesma forma que as comédias eram gravadas em 1950 e 1960, já mostra o comprometimento e o quão a sério toda a equipe levou o projeto.

Não era apenas uma questão de “ah, mas eles poderiam ter inserido ‘risadas enlatadas’ na pós e ninguém iria perceber”. Primeiro que existe uma diferença gritante de risadas enlatadas para risadas, digamos, “naturais” e segundo, aqui a questão não é apenas essa, mas sim toda a experiência, tanto para os atores quanto para o público.

O próprio Paul Bettany (que está ótimo na série, inclusive), intérprete de “Visão”, revelou em entrevista o medo que sentiu momentos antes de entrar no set para a gravação do primeiro episódio. A emoção e a adrenalina que é estar em frente a uma plateia é totalmente diferente da emoção que é estar apenas entre os seus colegas de trabalho e algumas várias câmeras te filmando. E, quando se assiste os dois primeiros episódios, é perceptível que a Marvel tratou esse novo capítulo do MCU de uma forma totalmente diferente do que vinha fazendo.

Reproduzir todo o estilo de filmagem das séries que eles se propuseram a homenagear, indo desde câmera fixa até câmera na mão, da comédia pastelão até o mockumentary (falso documentário, em português), voltar a lidar com o formato de tela de TV 4:3 depois do 16:9 já estar no nosso dia a dia há tanto tempo e pensar milimetricamente nos objetos que podem – ou não – serem utilizados no decorrer das épocas e onde posicioná-los dentro do cenário, denota de um estudo profundo, e “WandaVision” conseguiu cumprir cada um desses quesitos de uma forma muito competente.

WandaVision
Exemplos de formato de tela 4:3 (à esquerda) e 16:9 (à direita) em WandaVision

Os figurinos, a direção de arte e a cenografia também foram essenciais para nos transportar para o passado e, em conjunto ao roteiro bem desenvolvido, nos fazer vivenciar um tipo de comédia que hoje pode ser considerada datada, bobinha ou até mesmo sem graça para alguns. Isso é claro, antes de todo o drama que a história carregava em suas entrelinhas tomar conta da narrativa e mostrar como tudo isso estava interligado às produções homenageadas.

Outra decisão assertiva do projeto se fez em relação à liberação da temporada na plataforma de streaming Disney+. Quebrar o modelo Netflix de disponibilização e voltar ao clássico onde o público tem acesso apenas a um episódio por semana contribuiu de maneira positiva para o desenrolar da trama, além de mover todo o fandom em uma criação constante de teorias em relação aos possíveis acontecimentos futuros.

Então nós, como público, fomos obrigados a conter o imediatismo que a Netflix conseguiu implantar dentro do nosso modo de consumir conteúdo e, em troca, pudemos apreciar todo o material com calma e absorver o que de fato a história estava nos contando desde seu primeiro minuto: O quão importante é saber lidar com as nossas perdas, entender o que estamos sentindo e o porquê. Tudo isso embalado e incluído dentro dos cinco estágios do luto.

Todo o elenco entregou ótimos momentos durante a temporada e é claro que eu não poderia deixar de falar nela, a nossa Wanda Maximoff, vulgo patroa. Elizabeth Olsen passou por cada década de maneira brilhante, reproduzindo trejeitos da época no qual o episódio da semana se passava, quebrando o personagem quando necessário e mostrando toda a sua desenvoltura e talento que até então não haviam sido tão bem explorados nos filmes anteriores dos quais fez parte dentro do Universo, já que seu tempo em tela sempre foi minúsculo em comparação a de outros atores.

MCU - The Direct on Twitter: "Wanda Maximoff #WandaVision… "
Elizabeth Olsen em WandaVision | MCU Direct, Twitter

Dito tudo isso, sim, os mais de US$ 200 milhões investidos nesse projeto foram muito bem utilizados e, sem dúvidas, ainda vão render muitos e muitos milhões para os cofres da Marvel Studios futuramente. E com essa grande estreia do estúdio no mundo dos seriados, as próximas produções como “Falcão e o Soldado Invernal” e “Loki”, que também seguirão por esse caminho, terão que nos entregar produtos finais tão bons quanto esse ou superiores.

WandaVision nos deu uma aula sobre a história da televisão, sobre superação, com toques e efeitos cinematográficos e com direito até a momentos metalinguísticos e filosóficos. Isso tudo sem perder o jeitinho Marvel de ser e deixando algumas pontas soltas para resoluções futuras. Foi ótimo poder acompanhar este “casal incomum” durante estas oito semanas e, se caso você ainda não tenha assistido, dê uma chance, garanto que você não vai se arrepender.

Texto elaborado por Jamerson Nascimento.

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