A Musa de Bonnard: Uma poesia visual e emocionante
O amor duradouro é retratado de diferentes formas no cinema, mas, fora das câmeras, roteiros e edições, a realidade é muito mais dura e complexa. Como reconhecer sua estrela da sorte quando ela aparece em sua vida? E, mais importante, como mantê-la por perto? Em “A Musa de Bonnard”, acompanhamos cinco décadas de um romance em sua essência mais pura e verdadeira, entre um pintor e sua musa inspiradora. O filme ganhou destaque no Festival Varilux de Cinema Francês de 2023 e agora está nos cinemas de todo o Brasil, trazendo consigo uma reflexão profunda sobre o amor e a arte.
O diretor Martin Provost, conhecido por “A Boa Esposa”, continua a explorar mulheres em papéis de protagonismo, desafiando a famosa frase “por trás de um grande homem, sempre há uma grande mulher”. Neste filme, ele coloca em primeiro plano uma mulher que, para a sociedade, desempenha um papel aparentemente secundário na vida de um grande artista, mas que, na verdade, é fundamental para seu sucesso e inspiração contínua.
No início dessa envolvente história de amor, resumida em pouco mais de duas horas, percebemos o envolvimento físico e emocional entre o casal. Pierre Bonnard, interpretado de forma excelente por Vincent Macaigne, nos mostra um homem profundamente apaixonado por sua mulher, que ama seu trabalho e vive pela arte. A belíssima Cécile de France encarna Marthe de Méligny em “A Musa de Bonnard”, uma mulher forte, bem posicionada e quase divina, mas ainda assim natural e humana, trazendo uma complexidade única ao seu papel.
À primeira vista, a paixão de Bonnard por Marthe pode causar estranheza no público. Ele está emocionado ou apenas inspirado pela beleza física dela? Ao longo de “A Musa de Bonnard”, percebemos que a conexão emocional e intelectual supera a atração física. Para Bonnard, Marthe é arte viva, e suas obras refletem a beleza multifacetada que ele encontra nela. Para ele, tudo o que ela faz é artisticamente atraente e profundamente inspirador.
A fotografia do filme, comandada por Guillaume Schiffman, é um destaque visual, com cada frame sendo uma pintura poética e romântica por si só. As cores vibrantes dos cenários externos e a natureza capturada em ângulos abertos são um deleite para os olhos. A cena do rio, em particular, é uma perfeição fotográfica, com Marthe erguida na água, seu reflexo prolongando seu corpo, simbolizando um momento de imponência com sua “rival”, que embora estivesse no mesmo local, não possuía uma postura elegante.
A Musa de Bonnard mostra sua força e determinação desde o início, questionando seu papel nas artes de Pierre, onde é frequentemente retratada com o rosto borrado e o corpo à mostra. Apesar de aparecer em mais de um terço das obras do pintor, Marthe valoriza a solidão e a natureza, desejando uma vida mais tranquila e cautelosa.
Com ângulos fechados e íntimos, nos tornamos profundamente conectados aos personagens ao longo de cinco décadas de amor verdadeiro e incondicional retratados em belas imagens em “A Musa de Bonnard”. O romantismo cede lugar à realidade nua e crua de um relacionamento duradouro. Vemos um casal que permanece unido pelo sentimento mútuo, mesmo em situações difíceis, confusões e desafios. Isso torna a trama mais interessante, realista e mostra ao espectador que o amor verdadeiro exige sacrifício e compromisso.
O roteiro nos situa ao longo dos anos com introduções claras e a maquiagem revela a evolução dos personagens, complementada pela atuação impecável dos atores. Em um ponto crucial da narrativa, a arte se torna companheira de Marthe, a musa que aceitou tudo por amor. A transformação da musa em companheira é um dos pontos mais tocantes do filme.
O filme “A Musa de Bonnard” transmite uma mensagem clara e poderosa sobre o que é necessário para amar alguém profundamente: o que se aceita, o que se perde ao entregar a vida a outra pessoa e o que se ganha ao compartilhar a vida com alguém que sempre está lá para te apoiar. É sobre captar um amor tão profundo que não existem alternativas de viver sem o outro. Afinal, se for para perder, que essa perda não seja sentida, pois o amor verdadeiro transcende o tempo e as adversidades.
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