A Noite das Bruxas: Hercule Poirot em modo sobrenatural
O novo capítulo do universo cinematográfico inspirado nas obras de Agatha Christie, “A Noite das Bruxas”, já está em cartaz nos cinemas
Depois de passar pelo Expresso do Oriente e navegar através do Nilo, chegou na última quinta-feira, 14 de setembro, aos cinemas brasileiros, o terceiro capítulo da franquia encabeçada pelo famoso detetive criado pela rainha do crime, Agatha Christie.
Distribuído pela 20th Century Studios, em “A Noite das Bruxas”, Hercule Poirot (interpretado pelo também diretor do filme, Kenneth Branagh) é tirado de sua aposentadoria por uma amiga de longa data, Ariadne Oliver (interpretada por Tina Fey), com o intuito de desmascarar uma charlatã (interpretada por Michelle Yeoh) durante uma sessão espírita. Até que um assassinato acontece e todos os presentes são impedidos de sair de dentro de um palazzio em Veneza até que Poirot descubra o culpado… isto é, se esse culpado estiver no mesmo plano astral que os demais personagens.
Preciso avisar desde já que eu não li o livro no qual essa adaptação se baseia, então todas as considerações a seguir serão pautadas apenas no que me foi entregue como produto audiovisual.
O roteiro continua utilizando a mesma fórmula de seus antecessores. Ocorre um ou mais assassinatos durante a narrativa, todos os personagens evidenciados possuem motivações para cometer tal ato e uma investigação será realizada. Porém, este novo capítulo ganha um leve frescor com a inclusão de uma atmosfera com elementos sobrenaturais à história, quebrando a previsibilidade e até cansaço que poderia ser causado no espectador devido a repetição. E isso é muito bem vindo, até a página 2.
Eu digo isso pois, desde o início, nos deparamos com diversas tentativas da direção e da montagem de criar uma tensão e assustar o espectador com jumpscares, porém, esses recursos são utilizados em excesso logo no primeiro ato do longa, por vezes, tendo um intervalo de tempo muito curto entre um e outro.
Então, algo que poderia somar na produção, infelizmente, em certo ponto, acaba prejudicando e diminuindo o impacto a cada novo “susto” que o público precisa encarar, pois a execução da ideia não foi bem dosada e nem distribuída organicamente durante a projeção.
Fora isso, a direção de fotografia consegue brincar com os elementos presentes em cena e, os mais atentos, poderão até identificar o destino de um ou outro personagem apenas na base da observação, algo que é de fato agradável.
O uso de steadicam em algumas sequências também rende cenas bem bacanas e atingem o seu propósito na narrativa, casando perfeitamente com a toda a carga e declínio que a psique de Poirot precisa enfrentar, algo que Kenneth também consegue transpassar devidamente ao público.
Então, em relação a atuação, Michelle Yeoh continua sendo um grande presente ao aparecer em cena, com toda a sua desenvoltura e sua energia. Sem dúvidas, é uma das personagens mais interessantes dessa história, posto que divide diretamente com Tina Fey encarnando uma autora em busca de uma trama que possa lhe render um novo best-seller. Essa dupla rouba a cena e são o ponto alto da produção.
Outro personagem que merece ser destacado aqui é interpretado pelo jovem Jude Hill e arrisco dizer que, ao invés de jumpscares a cada 05 minutos, apenas ele poderia segurar muito bem o quesito “assustador” que a narrativa queria trazer para esse capítulo.
É impressionante como o seu personagem carrega um peso tão grande e o ator entrega todas essas camadas e questões de maneira tão segura e determinada em cena, chegando ao ponto de eu mesmo cogitar que até ele poderia ter sido o culpado por todo o caos, por mais inacreditável que isso pareça. Isso é resultado de uma ótima construção de personagem unida a uma performance impecável.
Além disso, ele ainda é capaz de melhorar o trabalho mediano entregue por Jamie Dornan, que interpreta seu pai durante a produção.
Aproveitando, os demais presentes na produção entregam atuações razoáveis, por vezes, estereotipadas de certas figuras que já vimos em outras produções e, por consequência, gera um esquecimento quase que instantâneo, assim como dos personagens os quais encarnam, no momento em que começa a subir os créditos.
Apesar da nova abordagem ter parecido uma ótima ideia de início, o novo “A Noite das Bruxas” encerra o dia como uma produção mediana mas que, por uma pesada de mão, não se tornou genial. Isso não significa que esse universo morreu nos cinemas, pelo contrário, acredito que ainda possa render mais algumas sequencias, afinal, todo mundo gosta de bancar o detetive de vez em quando e essa franquia é um prato cheio para colocar isso em prática.
Mas mesmo que ainda consiga criar uma curiosidade sobre qual seria a próxima obra a ser adaptada dentre as vastas opções que a rainha do crime fornece, Kenneth Branagh vai precisar trabalhar dobrado para inserir novidades dentro da fórmula que realmente engajem o público em ver mais aventuras do seu personagem. Caso contrário, “A Noite das Bruxas” pode ser o início da derrocada de Hercule Poirot nos cinemas.
Texto Elaborado por Jamerson Nascimento.
[…] A Noite das Bruxas, novo filme da 20th Century Studios ambientado na sinistra Veneza pós-Segunda Guerra Mundial, na véspera do Dia de Todos os Santos, já está em cartaz nos cinemas. O thriller sobrenatural é dirigido e estrelado por Kenneth Branagh, vencedor do Oscar® de Melhor Roteiro Original por Belfast (2021), no qual atuou como roteirista e diretor. O longa é um aterrorizante mistério que marca a volta do célebre detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh), clássico personagem das histórias de Agatha Christie. […]