
Aqui: O Tempo Se Faz Presente
“Aqui” já está em cartaz nos cinemas
Dirigido por Robert Zemeckis, o novo drama “Aqui” propõe uma jornada cinematográfica ambiciosa, atravessando séculos e explorando diferentes momentos históricos, desde a era dos dinossauros até o impacto da pandemia de COVID-19. Tudo isso sem movimentar a câmera de sua posição inicial.
Baseado na história em quadrinhos de Richard McGuire, o filme coloca em cena Tom Hanks, Robin Wright, Paul Bettany e Kelly Reilly, um ponto forte da produção. Porém, apesar do enredo instigante, o longa não consegue atingir o ápice emocional que parecia ser sua verdadeira promessa.
A história se desenrola em um único cômodo de uma casa colonial, um cenário imutável que, ao longo do tempo, acolhe várias famílias, cada uma refletindo diferentes períodos históricos. No entanto, a escolha de se concentrar em apenas dois casais, com os quais passamos mais tempo, acaba por enfraquecer a chance de explorar de maneira mais equilibrada a pluralidade de experiências humanas que o conceito inicial sugeria. A falta de diversidade nas relações apresentadas deixa a narrativa restrita e pouco dinâmica.

Com uma proposta que poderia facilmente se tornar monótona, “Aqui” se destaca pela forma como manipula o tempo. A edição, fluida e quase hipnótica, é a principal qualidade do filme, permitindo transições suaves entre diferentes períodos e despertando o interesse do espectador nos momentos mais lentos. Pequenos detalhes – como um objeto ou um movimento sutil – são suficientes para nos transportar de uma época a outra, criando uma sensação de continuidade.
A direção de arte é igualmente digna de nota, com um design de produção minucioso que recria as várias eras de forma convincente. Cada objeto, móvel e vestuário é cuidadosamente escolhido, sem a necessidade de letreiros visuais explicativos, o que torna a experiência mais imersiva.
Zemeckis se destaca ainda ao gerenciar com maestria o espaço limitado, utilizando o cenário restrito de forma criativa e inteligente, muitas vezes criando soluções visuais que fazem com que os personagens pareçam estar em outros ambientes sem a necessidade de movimentação da câmera.

Quanto ao elenco, Tom Hanks e Robin Wright são brilhantes, como era de se esperar, mas a tecnologia de rejuvenescimento digital aplicada aos atores, embora bem executada, por vezes cria um desconforto visual. Ainda assim, isso não chega a comprometer o impacto de suas performances. Paul Bettany e Kelly Reilly também se destacam, com Reilly, em particular, apresentando um arco de personagem que deve ser apreciado com atenção para que se compreenda o seu real peso.
A trilha sonora de Alan Silvestri, que em seus primeiros acordes parece remeter ao icônico tema de “Forrest Gump”, é delicada e se encaixa bem na narrativa, complementando os momentos reflexivos. No entanto, apesar de toda a qualidade técnica e das atuações competentes, o longa não consegue atingir o impacto emocional desejado.
Distribuído no Brasil pela Imagem Filmes, “Aqui” é um filme visualmente impressionante e tecnicamente impecável, mas falha em cumprir sua promessa de proporcionar uma experiência verdadeiramente tocante. A proposta ambiciosa de explorar o tempo e a evolução humana se perde na falta de equilíbrio narrativo, deixando o espectador à espera de um clímax que nunca chega.
Texto Elaborado por Jamerson Nascimento.
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