Tanta história acontece em Requiem of the Rose King que mais parece uma vida inteira. Quem restará com a coroa, no final?

Requiem of the Rose King é um anime dark fantasy que conta a história sangrenta de duas famílias (Casa York e Casa Lancaster) em busca da coroa da Inglaterra, o que culminou  na Guerra das Rosas (disputas que vão e voltam), onde só vão mudando de herdeiros com o passar dos tempos e dos escândalos.

O protagonista da história, Richard III, é o filho mais novo do duque de York e, além de não se parecer nem um pouco com seu pai ou irmãos mais velhos, Richard ainda sofre com a rejeição da mãe, que o trata como um demônio. Tudo isso, apenas, pelo pequeno ser intersexo. É até por conta disso que grande parte do anime se trata do conflito interno do Richard e sua sexualidade.

Na guerra pelo trono da Inglaterra, que estava nas mãos da família Lancaster, seu pai foi morto cruelmente, mas sua família acabou saindo vitoriosa e conquistando a coroa, que ficou sob responsabilidade de seu irmão mais velho, Edward IV. E até aí tranquilo… Não fosse as escolhas de vida que ele fez, principalmente em relação ao casamento, o que só faz o Richard começar a se questionar se, mesmo sendo um “demônio”, não seria melhor ele mesmo virar rei e carregar o legado de seu pai, sem manchá-lo.

Isso aqui foi o resumo do resumo, só o fio de cabelo do anime, para não dar grandes spoilers de nada porque as reviravoltas valem a pena e não quero que percam isso.

Já vamos começar falando do protagonista, e irei tratá-lo no masculino porque o mesmo parecia autoafirmar que ele era e deveria ser um homem. Começando por aí mesmo, Richard, como disse, é intersexo* (ali embaixo explico melhor, para quem quiser saber), mas desde pequeno foi criado como menino e meio que projeta uma personalidade feminina, com quem ele discute em vários momentos. Dá para perceber que a rejeição de sua mãe foi um trauma na sua vida e ele mesmo se vê como um demônio que não é nem homem, nem mulher, mas, ao mesmo tempo, possui corpo de homem e de mulher.

Eu nunca tinha visto um anime com um personagem intersexo, muito menos protagonista, então achei muito interessante a escolha. Vamos perceber que seu pai, sua maior luz diante a escuridão que foi sua infância, também acaba se tornando um fardo enorme quando deixa o reino nas mãos dos filhos e Richard, claro, se sente, 10 vezes mais afetado por isso. Seu conflito com seu gênero e a vergonha de seu corpo também o forçam a não tentar se aproximar ou se apaixonar por ninguém (o que não dará tão certo assim).

É uma questão de um que trai o outro que acho que nem posso sair comentando que lado estão os aliados e os inimigos, porque isso muda num piscar de olhos. Num momento você está torcendo pelo sucesso de um personagem, no outro você só quer ele morto logo. E digo o mesmo quanto aos possíveis pares românticos de Richard (sim, tem bem mais de um). Acho que nunca troquei tanto de ship num único anime e parece que eles só vão melhorando, mas os finais deles também são cada vez mais trágicos.

E vamos deixar anotado que animes que vão mostrando a passagem de tempo, onde você vê, claramente, o crescimento físico dos personagens, a família crescendo… adoro. Sinto que, realmente, acompanhei a vida deles e não apenas um momento, um período da história.

Não é dark fantasy a toa, o temas tratados aqui são bem pesados, não veríamos isso na sessão da tarde. Não tem nada tão gráfico, são mais as insinuações mesmo. A arte da história também é bem bonita, naquela pegada de shoujo mesmo, mas sem exagerar, afinal, não é uma história “feliz”.

Requiem of the Rose King possui 24 episódios, disponíveis na Crunchyroll, inclusive com dublagem e português, e é adaptado do mangá de Kanno Aya que, por sinal, é baseado na peça de Shakespeare Henry VI, parte 3 e Richad III. Além disso, a história, também, já ganhou adaptação para áudio drama, light novel e, vem aí, peça de teatro (olha, queria ver, de verdade).

Acredito que esse anime passa várias mensagens, sobre aceitação, sobre amor e sobre como o poder pode corromper as pessoas, ao mesmo tempo em que traz tudo o que você deseja, te deixa sem nada, nem ninguém (fica a reflexão). No mais, esse anime é uma história completa, eu consigo olhar para ele como uma peça de teatro mesmo, seus altos e baixos, é tragicamente belo.

Por: Letícia Vargas

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*Intersexo – pessoas que desenvolvem características sexuas femininas e masculinas, que podem variar de indivíduo para indivíduo e se manifestar com a idade ou, às vezes, são variações apenas nos cromossomos, não são fisicamente aparentes. Veja que estou falando da questão biológica e não de identidade de gênero ou orientação sexual. Vale, também, mencionar que antigamente se usava, erroneamente, o termo “hermafrodita”, o qual não é mais utilizado, nem pela comunidade médica. 

Por fim, a identidade de gênero também depende de cada um, porém, infelizmente, acontece ainda hoje de os pais optarem por removerem os traços intersexo dos filhos ainda na primeira infância, seja por uso de medicamentos hormonais ou cirurgia, tirando o direito da criança crescer e explorar a própria sexualidade e fazer as próprias escolhas.

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