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Por: Colunista Convidado 14/11/2020
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“A Vida Invisível”: a resistência das mulheres e a importância de tornar suas histórias visíveis | Jaqueline Souza

A história das mulheres, no Brasil e no mundo, é muito mal contada. São histórias realmente invisíveis. É necessário torná-las visíveis, pulsantes, vivas”. O comentário, de autoria do diretor Karim Aïnouz, foi lido por ninguém mais, ninguém menos que a fantástica Fernanda Montenegro. Foi com essas palavras, eternizadas em uma carta, que a atriz revelou o motivo pelo qual tinha aceitado o convite de Karim para participar do longa-metragem A Vida Invisível.

Resolvi iniciar o texto dessa maneira porque tais palavras ainda permanecem em minha memória, mesmo um ano após a estreia do filme nos cinemas. Agora, o comentário ganhou um significado mais forte e resistente. Conhecer a história das irmãs Eurídice e Guida, sem dúvida, é uma experiência enriquecedora para qualquer indivíduo.

A Vida Invisível é uma adaptação da obra literária “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, escrita por Martha Batalha e publicada em 2016. Logo, vale ressaltar que esse texto tem como intuito explorar alguns aspectos da produção cinematográfica, sem compará-los com a obra de Martha Batalha. Ambos têm seus méritos e coexistem com maestria.

A Vida Invisível
Créditos: Divulgação

A RESISTÊNCIA NO COMUM

Rio de Janeiro, 1950. Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Julia Stockler) são duas jovens irmãs que vivem sob o teto de uma família conservadora. Eurídice tem o sonho de ser uma pianista consagrada. Guida, por outro lado, tem o espírito aventureiro e curioso por romances empolgantes. Personalidades distintas, mas, ao mesmo tempo, parecidas.

Até que o destino entra sem pedir licença na vida das duas irmãs e elas seguem por caminhos completamente diferentes. Antes, inseparáveis. Depois, apenas o futuro ditaria as regras. Através da distância, acompanhamos as rotinas de Eurídice e Guida, enquanto elas tentam conviver com a lembrança e anseio por um reencontro.

A Vida Invisível é um filme cheio de sutilezas. O fio condutor da narrativa, aos poucos, vai levando a gente para dentro do dia a dia de Eurídice e Guida e suas dificuldades particulares. Com atuações impecáveis de Carol Duarte e Julia Stockler, é praticamente impossível não se emocionar com o desenvolvimento da trama.

Fernanda Montenegro dispensa apresentações. Apesar de sua breve participação, nos últimos momentos do filme, a atriz consegue deixar o telespectador boquiaberto, entregando uma interpretação magnífica de uma Eurídice mais velha.

A direção de Karim é outro ponto encantador. O estilo do diretor foi imprescindível para dar vida a essa história, alcançando um reconhecimento mundial. Em tempos de tanta instabilidade e preocupação com o cinema nacional, A Vida Invisível trouxe um respiro de alívio, tornando-se a mais recente joia preciosa das produções audiovisuais brasileiras.

A Vida Invisível
Créditos: Divulgação

SOBRE TORNAR-SE VISÍVEL

Por meio de Eurídice e Guida, conhecemos os bastidores de vidas baseadas em aparências. A opressão velada que as mulheres enfrentavam na época – e que, infelizmente, ainda enfrentam – é escancarada no filme de uma forma visceral. É através da história de duas irmãs que somos confrontados com a dura vivência de mulheres que são vítimas de todo tipo de violência diariamente. Uma violência tão poderosa que é capaz de matar sonhos e deixar as mais terríveis sequelas.

Assim como Karim Aïnouz disse, a história das mulheres é muito mal contada. E não é de hoje. Quem é mulher sabe exatamente qual a sensação de ser invisível. A sensação de querer falar, querer fazer e querer agir. Mas ser invisível. Esquecida e calada. É como se não existíssemos. É violento e cruel. Uma realidade que ainda insiste em dar as caras.

Contudo, é preciso resistir. É necessário entender que a mulher tem, sim, uma voz. Por mais que tentem sufocá-la, podemos encontrar atos de resistência até mesmo no ordinário. E o filme soube muito bem explorar a temática, criando uma identificação e demonstrando a importância de tornar tais histórias visíveis e pulsantes.

Assim como Eurídice e Guida, também queremos ser livres e retirar a terrível capa de invisibilidade e opressão que nos persegue constantemente. Claro, sem deixar de lado as particularidades de cada luta. Identificar as especificidades e exigências de diferentes vertentes da causa feminista é algo urgente na atualidade e, por meio do audiovisual, também conseguimos estabelecer diálogos essenciais para, quem sabe, construirmos um mundo melhor.

Do começo ao fim, A Vida Invisível deixa uma marca na mente de quem o assiste. É uma história que permanece e que levanta pautas extremamente necessárias. As mulheres resistem e, portanto, precisam ser vistas. Eurídice e Guida resistiram e resistiram e resistiram mais um pouco. Nos últimos segundos do longa, “com amor, Guida” é como um êxtase final. Apenas três palavras, mas com uma imensidão de sentimentos nas entrelinhas.

A Vida Invisível

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    The Crown vai além dos muros da realeza para mostrar as fraquezas humanas | Mariana Mascarenhas - [2020]

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